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Exposição "Stilb Life" (série B)


exposição individual de fotografia patente na Casa da Cultura de Beja 
de 11 de Janeiro a 13 de Fevereiro 2014. 

Sandra Cohen (Vinessa Shaw) - Esta aqui também é boa, mas... não há pessoas.
Leonard Kraditor (Joaquim Phoenix) - Sim, as pessoas olham para elas. Não precisam de aparecer.

diálogo do filme "Two Lovers" (2008) de James Gray




Textos da folha de sala da exposição:

Stilb Life (série B) –  “A ausência da presença”
fotografia de Daniel Curval

stilb [stilb] s.m. FÍSICA unidade de medida de brilho, de símbolo sb, equivalente a uma candela por centímetro quadrado (do gr. Stílbein, «brilhar»). in Dicionário da Língua Portuguesa 2004. Porto Editora.

A estranheza e a ambiguidade do título deste trabalho fotográfico são de imediato ultrapassadas após a leitura desta série de fotografias. Realizadas sobre uma reflexão do mundo contemporâneo, registam um tempo cristalizado, as imagens de um real daquilo que ainda é, que ainda (still) existe mas que está quase a falecer num limbo existencial, imagens moribundas ou até mesmo mortas. Estas fotografias são no aspecto da captura intuitiva do momento, a antítese do "instante decisivo" de Henri Cartier-Bresson, estando por afinidades, mais próximas dos enquadramentos estertores de Eugène Atget. Serenas no seu estado cristalizado a encenação está ausente e não são "still life – natureza morta" mas imagens que ainda têm ou tiveram uma relação umbilical com a vida, que exalam uma última centelha de luz para a câmara fotográfica e durante essa metamorfose a imagem morre materializando-se numa fotografia. Esta segunda série tem como tema "A ausência da presença" os objectos já não são o leitmotiv, mas a presença humana ausente, tentar mostrar a presença humana invisível, não materializável na imagem fotográfica, mas presente de forma subliminar na nossa mente/pensamento.


Daniel Curval

________________________


Stilb Life

O corpo que já não está mas esteve. A existência que moldou os espaços e os objectos. Um in media res fotográfico. O que não morreu mas permanece numa morte lenta. Estas são imagens “em coma”, ligadas à máquina. O continuum entre a lente e o objecto testemunhal da presença humana é o registo silencioso dos anúncios de morte. Aquilo que cria uma afinidade directa do olhar com as imagens, além da sua incontornável contemporaneidade, reside na angústia da ausência, como se se captasse, através de qualquer sentido, o grito mudo de uma passagem longínqua. Não há promessas para o futuro, não há melhoras possíveis. O pessimismo entranha-se no próprio filtro da luz. Pegamos na mão fria de uma imagem e esperamos a paragem da sua respiração.

«A good photograph is like a good hound dog, dumb, but eloquent.»
                                                                                
                                                                                                     Eugène Atget

Um barco sem mar, um sofá sem sala, um colchão sem cama, uma ventoinha parada.  O “sem” que acompanha cada objecto é, na verdade, a paisagem do “com”, porque ao ser possível visualizar aquilo que não está presente, sabemos que já esteve e que essa presença é reclamada. Nestes vazios aparentes, quem não identifica imediatamente os carrosséis sem uma única criança, os manequins das montras solitárias, os espaços abandonados ou os caminhos desertos fotografados por Atget? O seu realismo sem adornos habita então aqui, através de outra lente, através de outro tempo.
É nesta franqueza imagética que Daniel Curval nos dá a desmaterialização de um mundo materializado, com um  projeto que documenta o negativo da existência num “ainda” embalsamado nos espaços onde reside o último fragmento de brilho. A pergunta que se impõe em relação a cada uma das imagens é apenas uma: quanto tempo têm de vida? O tempo que a incidência de cada olhar injectar na série de estados letárgicos.

Inês Lourenço
Jornalista 


As fotografias expostas podem ser visionadas neste link > danielcurval.net

Os meus agradecimentos a Paulo Monteiro e a Susa Monteiro.



imagens do espaço da exposição
 na Casa da Cultura de Beja














Que Cor Esconde a Dor?


Obra "Que Cor Esconde a Dor?" 
na exposição colectiva "Assobiador"
patente na Galeria Metamorfose no Porto
de 21 de Setembro a 26 de Outubro 2013




40 artistas que foram convidados pela Metamorfose a intervir sobre uma placa de cortiça. A escolha do suporte, baseou-se nos conceitos de sustentabilidade ecológica, económica e social, bem como no "Assobiador", que é o sobreiro maior e mais produtivo de Portugal. Plantado em 1783 no Alentejo, tem mais de 14 m de altura e produz 10x mais cortiça que um sobreiro vulgar. O Assobiador foi baptizado com este nome devido aos numerosos pássaros canoros que o habitam. 
Os artistas convidados tiveram liberdade para se exprimir e intervir numa placa de cortiça de 30 cm de diâmetro e 3 cm de espessura. 



(c) Daniel Curval



ficha técnica:

Título: Que Cor Esconde a Dor?
Data: 2008-2013
Técnica mista/Materiais:
- Placa cortiça de 30 cm diâmetro
- Tela branca de 28 cm diâmetro
- Tinta acrílica vermelha
- Linha preta
- 35 alfinetes metálicos
- Sangue RhA+ do artista





A memória marca, deixa um rasto de cicatrizes. Às vezes, tenta esconder o passado, camuflá-lo, mas o corte fica para sempre. A ferida sara, reconstitui-se, camada sob camada nasce uma nova pele. Enquanto o corpo estiver vivo, a natureza encarrega-se de restaurar o corte. Somos feitos de memórias, dos cortes que fizemos, do passado que deixámos. O sobreiro também sofre estes cortes. Só a partir do terceiro corte, da terceira extracção, é que a cortiça atinge o seu valor mais elevado, a sua melhor qualidade. Os cortes são a sua memória. Pela quantidade de cortes conseguimos saber a idade do sobreiro. E será que sofre durante os cortes? A extracção efectua-se entre Junho e Agosto, meses favoritos para a música das aves canoras. A natureza cumpre a sua função, o equilíbrio estabelece-se desta forma. O homem corta e as aves cantam. Disse o poeta que a faca não corta o fogo, mas o fogo cicatriza os cortes. O calor do canto das aves cicatriza o sobreiro e embala a sua dor.

Marco Santos, 2013
http://novaziodaonda.wordpress.com/


Video da Exposição inaugural "Assobiador" na Galeria Metamorfose, Porto:

http://vimeo.com/76889686




STILB LIFE by Daniel Curval






O projecto ShareMag.net convidou-me a apresentar um portfolio fotográfico.
Esse portfolio tem como título: Stilb Life - Fotografias de imagens moribundas
e pode ser conhecido no website http://www.sharemag.net/
Fica aqui registado o meu agradecimento ao José Carlos Marques do ShareMag
e ao João Gomes Martins pelo excelente texto
"Entre a mundanidade precária dos objectos e a sua permanência transparente na arte"
que acompanha o portfolio.



stilb [stilb]

s.m. FÍSICA unidade de medida de brilho, de símbolo sb,

equivalente a uma candela por centímetro quadrado (do gr. Stílbein, «brilhar»)

in Dicionário da Língua Portuguesa 2004. Porto Editora



A estranheza e a ambiguidade do título deste trabalho fotográfico é de imediato ultrapassada após a leitura desta série de fotografias. Realizadas sobre uma reflexão do mundo contemporâneo, registam um tempo cristalizado, as imagens de um real daquilo que ainda é, que ainda (still) existe mas que está quase a falecer num limbo existencial, imagens moribundas ou até mesmo mortas. Estas fotografias são no aspecto da captura intuítiva do momento, a antítese do "instante decisivo" de Henri Cartier-Bresson, estando por afinidades, mais próximas dos enquadramentos estertores de Eugène Atget.

Serenas no seu estado cristalizado a encenação está ausente e não são "still life – natureza morta" mas imagens que ainda têm ou tiveram uma relação umbilical com a vida, que exalam uma última centelha de luz para a câmara fotográfica e durante essa metamorfose a imagem morre materializando-se numa fotografia.

Nesta série são apresentadas stilbs lifes de objectos "uma coisa imortal realizada por mãos mortais" (Hannah Arendt).



Como complemento aqui ficam as palavras de Apronenia Avitia, uma patrícia romana que viveu no século IV a.d. e que no seu diário escrito em tábuas de buxo registou, entre outros, este fragmento:


LXXIII. Objectos conservados do passado



Com P. Saufeius, contámos os objectos que tínhamos conservado do ano passado e cuja visão nos comovia.

Um pedaço de pano amarelo, do amarelo que se extrai das folhas de camomila.

Duas tábuas de Q. Alcimius onde nem três palavras havia.

O carro de duas rodas em restauro.

Um pião infantil de um azul tão desbotado que já está quase branco.

As unhas e o cabelo de Papianilha.

Publius diz:

- O único objecto do passado é cada noite em que brilha a lua cheia, e o chão seco, sem sombra de um vestígio.

in As tábuas de buxo de Apronenia Avitia. Edições Cotovia, 1999

Daniel Curval



Entre a mundanidade precária dos objectos e a sua permanência transparente na arte. *

Hannah Arendt no seu livro "Condition de l'homme moderne" caracteriza nestes termos o conjunto dos objectos que o homem produz: "Considerados como elementos do mundo (…) eles garantem a permanência, a durabilidade, sem as quais não existiria nenhum mundo possível. (…) Esse meio composto por objectos que não são consumidos, mas utilizados e habitados, e porque os habitamos também nos habituamos a eles, estão na origem da familiaridade com o mundo, dos seus costumes, das relações usuais entre o homem e as coisas, como ainda entre o homem e os outros homens." Mas o que podemos apelidar a mundanidade dos objectos não é a sua simples presença ou ainda a sua realidade "objectiva", mas como o indica Gianni Vattimo, em "Introduction à Heidegger", ela define-se como "instrumentalidade essencial, como Zuhandenheit, ou de modo mais geral, como significação em relação à nossa vida (…) que não é algo que se acrescenta à sua "objectividade", mas que constitui o seu modo de ser (…) e o modo segundo o qual eles se apresentam primordialmente na nossa experiência." Estas considerações permitem, parece-nos, identificar as operações que organizam o trabalho que presidiu ao conjunto de fotografias que Daniel Curval intitulou Stilbs lifes. Em que circunstâncias é que o olhar do fotógrafo e a lente do seu aparelho fotográfico são mobilizados? Precisamente perante objectos que perderam ou que não actualizam a sua essência mundana enquanto instrumentalidade. São objectos isolados do conjunto que lhes conferiria consistência, como no caso da bicicleta encostada a uma parede (Stilb life XLII) numa subtracção ao seu ser instrumental, ou uma mesa e umas cadeiras de jardim empilhadas manifestando os sinais de uma expatriação do mundo (stilb life XLI). Um outro caso é ilustrado pelos interiores vazios, totalmente ou em parte, desocupados e desfrutando duma espécie de ociosidade sui generis. Para ilustrar um grau superior de des-mundanização, temos o "tv cemetery", uma espécie de geena dos objectos, o sofá castanho, como que extraviado do mundo e desaparecendo no meio das ervas de um descampado (stilb life XL), as ruínas de uma habitação, como em "O quadrado vermelho de Malevitch" e em "stilb life XXXIV".

Portanto, estas fotografias como que expõem diversas modalidades de um exílio do mundo, próprio aos objectos, as suas diversas formas de exclusão, poderíamos acrescentar. Correlativamente a esta situação, a operação do fotógrafo, singela em aparência, poderia consistir, numa primeira acepção, num gesto de protesto contra um processo, em parte natural de corrupção dos objectos, produto duma obra criadora, mas também, em parte, fomentado por uma sociedade que submete tudo a uma obsolescência cada vez mais acentuada. Numa segunda acepção, esta operação seria uma forma de resgatar os objectos desocupados (no sentido em que falamos das pessoas desempregadas), expatriados ou fisicamente corrompidos e de oferecer-lhes uma possível modalidade de existência feita das virtualidades da luz que permite registá-las e da contemplação que lhes podemos dispensar. Sendo assim, a arte permitiria compensar a precária instabilidade do mundo e dos seus objectos, pois no dizer de Hannah Arendt "Tudo se passa como se a estabilidade do mundo se tornasse transparente na permanência da arte, de modo que um pressentimento de imortalidade, não da alma ou da vida, mas de uma coisa imortal realizada por mãos mortais, se torna tangível e presente para resplandecer, para que se possa ver, para cantar e que se possa ouvir, para ler por quem estiver disponível para lê-lo."

* texto elaborado a partir dos stilbs lifes do website "stilb photography" em Julho de 2010

João Gomes Martins - Mestrado em Filosofia pela Universidade do Porto

portfolio STILB LIFE na ShareMag.net

O projecto ShareMag.net convidou-me a apresentar um portfolio fotográfico.
Esse portfolio tem como título: Stilb Life - Fotografias de imagens moribundas
e pode ser conhecido no website http://www.sharemag.net/
Fica aqui registado o meu agradecimento ao José Carlos Marques do ShareMag
e ao João Gomes Martins pelo excelente texto
"Entre a mundanidade precária dos objectos e a sua permanência transparente na arte"
que acompanha o portfolio.