UNPHOTOGRAPHABLE

A cerca de dez metros avisto-a. Tomo uma decisão repentina. Tenho essa distância para tirar do bolso e à passagem lançar uma moeda. Esta cai num estojo de viola para junto das poucas que lá estavam. A minha deveria ter sido de mais alto valor. A sorte não o permitiu. Nunca tinha lançado uma moeda aos homens-ou-mulheres-estátua. Desta vez, tive uma vontade urgente de ver uma estátua-humana a mover-se para outra posição. Depois da moeda cair, isso não aconteceu. A estátua, com aspecto de mimo, não reagiu. Nestes dois ou três segundos entre lançar a moeda enquanto andava e esperava um movimento, uma mudança de posição, observei o máximo que pude, para as moedas, para o corpo imóvel e para a sua face. Num último instante, os seus olhos tristes e cansados, reviraram na minha direcção, foi o único movimento a que assisti. Olham-me e eu olho-os, sei que nos fixamos nesta fracção de segundo, a sua boca traça um esgar e ouço o som de uma palavra: obrigado. A estátua diz-me obrigado. Foi o agradecimento mais digno que ouvi na minha existência. Tudo isto não durou mais do que quinze segundos, o tempo de percorrer aqueles dez metros, passar à frente da estátua-humana e lançar uma moeda. Por aquela atitude senti um enorme respeito.